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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quando o filho pergunta onde está Deus

Meu filho de 3 anos e 4 meses decidiu que está na hora de me fazer perguntas complexas e desta forma descobri que ao contrário do que eu imaginava não estou exatamente preparada para responder. Posso, no entanto, nesse momento aproveitar a oportunidade para definir que tipo de coisas eu quero que meu filho saiba. E que tipo de formação espiritual e ética desejo que sustente o caráter dele.

Ontem ao passarmos por uma igreja católica ele me pediu para entrar e como tínhamos um tempinho entramos e eu solicitei que ele fizesse silêncio enquanto nos sentávamos nos bancos de madeira. Não sou e nunca fui católica, porem eu tive uma formação cristã e cresci frequentando igrejas evangélicas. Cursei teologia na época que participei de um treinamento de uma organização missionaria e li dezenas de livros cristãos e a própria bíblia algumas vezes. No entanto quando ele me perguntou: "Mamãe onde está o Deus?" Eu soube que não queria dar a ele as respostas prontas e mecânicas que se dá a uma criança, e tão pouco desejei dar a ele o que me deram e demorei 23 anos e pouco para descobrir a vaguidade e abstração de tais respostas.

Ok, ele é pequeno e devo falar a linguagem dele. Eu ainda não sei ainda como farei isso, mas já tenho uma linha que me norteia com relação as coisas que eu NÃO quero que ele acredite.




Não quero que meu filho pense que Deus é um irmão do papai noel, um ser distante que mora no céu, que fala grosso e que diz sim todas as vezes que pedimos algo e castiga quando erramos.
Não quero que ele acredite que Deus é alguém que vive em função de nos, para nos atender e nos servir. Nem mesmo quero que ele pense que Deus é um ALGUÉM.

Não quero que ele acredite em céu e inferno... Não quero que ele pense que o mal é um demônio vermelho de chifres com cara aterrorizadora..

Quero SIM que ele saiba que toda vez que ama, que se compadece do próximo que preserva a natureza.. ele esta agindo de acordo coma natureza divina dele. Quero que ele saiba que tem o potencial de amar e ser aquilo que Deus é, de buscar a perfeição e a excelência em suas relações. Quero que ele reconheça Deus na face sorridente de uma criança, no olhar amigo de um cachorro, na beleza de uma árvore centenária... Quero que ele descubra Deus nos mistérios insondáveis, e que ele perceba que Deus tem diversas FORMAS, CORES, SABORES, MORADAS e VERDADES.

Quero que meu filho respeite toda a diversidade de religiões e crenças que tenham como alvo de suas práticas o amor e a união. Quero que ele saiba valorizar a arte em toda parte como forma de tornar externo a divindade e a adoração a Deus.

E que ele ame o ser humano e todas as criaturas vivas como manifestação do amor dele a Deus.

Que ele tenha o direito e a liberdade de nomear aquilo que ele entender por Deus. Sejam esses nomes Gaia, Krishna, Buda, Jesus, Tupã, Brahma....
E que ele encontre o melhor método para vivenciar a espiritualidade dele. Seja o Yoga, a Ayahuasca, meditação, oração, prosternações ou mantras. Caridade ou devoção.

Que as virtudes de um caráter íntegro e evoluído sejam presentes no meu filho. Que ele descubra a forma que for mais conveniente para aquietar a mente e coração dele... Só cabe a mim apresentar a ele as formas sem recriminar nenhuma.

Que ele encontre paz interior e paz com todos os seres. Que ele permeie a conduta dele pelas verdades que são comuns a todas as práticas que envolvem o amor e o respeito, que ele não seja apegado a valores mutáveis e saiba que a maior riqueza de uma vida está nos relacionamentos e na alegria genuína de existir.

Que ele entenda um dia, que o verdadeiro mal esta dentro de nos quando agimos por impulsos egoístas e mesquinhos. Que ele saiba desde cedo que possuímos verdadeiro potencial de destruição e de ignorância se assim quisermos viver, e que podemos trazer dor e solidão não só as pessoas ao redor como a nos mesmos.

Quero que ele um dia consiga aceitar a dor, as desilusões, os medos e as doenças como parte natural da vida de qualquer ser humano e que nenhum ser esta livre de sentir ou vivenciar essas questões... seja ele "bonzinho' ou 'malvadinho".

Que ele aprenda de mim, que demorei pra descobrir, que tudo sempre pode mudar. A impermanêcia é uma regra universal esteja onde estiver. Acreditando ou não no que desejar.

Mais do que acreditar em Deus, desejo que meu filho VIVENCIE Deus. Que é AMOR, PAZ, LIBERDADE, SOLIDARIEDADE...

E desejo de td meu coração que ele não precise se ver em lutas emocionais por acreditar ou não em Deus.

Vou ensinar a ele que o verdadeiro paraíso pode ser vivenciado aqui mesmo se buscarmos estar em paz e oferecer a paz. Quero ensinar a ele que a verdadeira salvação é se descobrir como uma centelha desse amor divino tão misterioso e viver como um "salvo" e que ao desenvolver uma consciência "crística" ele recebe o próprio filho unigênito do amor e assim não perece em ignorância, mas sim vive no eterno AGORA em toda plenitude!

Grande desafio eu tenho pela frente ao ensinar aquilo que devo aprender também. Sou grata ao meu filho que me ensina mais do que o que tenho a oferecer a ele!

Que todos os seres sejam felizes!
Que todos os seres sejam ditosos!
Que todos os seres estejam em paz!

Laís de Souza

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